#1 tive tanto medo de ser deixada de lado que escolhi ficar pra trás
as vezes a solidão é culpa nossa
desde que me lembro fui uma pessoa muito consciente de tudo ao meu redor em um nível quase doentio, ainda criança eu não conseguia sair de casa sem trocar de roupa várias vezes e ensaiar expressões faciais na frente do espelho, na hora das brincadeiras se eu fosse muito ruim (oque quase sempre era o caso) já desistia imaginando que iriam rir de mim. na minha mente nunca consegui ter paz e óbvio que isso se espelhou em todas minhas relações.
fui a última das minhas amigas a dar o primeiro beijo pelo simples fato que eu morria de medo de ser terrível e virar fofoca, na minha cabeça iria ser um desastre, todos iriam saber e eu viraria uma grande piada e esse medo foi evoluindo com os anos, de repente virou uma luta fazer qualquer coisa inclusive beijar e nada saía natural, beijei porque todos beijavam, saí porque todos saíam, bebi porque todo mundo estava bebendo mas quando chegava em casa não conseguia dormir, ficava ocupada revisitando cada momento tentando encontrar os erros nas minhas falas, as vezes que falei algo estúpido e também comparar como estava minha aparência do lado das outras, eu sempre com problemas de acne ver as fotos ao lado das meninas tão lindas e arrumadas me fazia chorar e não sair mais do quarto.
nunca vou esquecer de quando no primeiro dia do ensino médio entrei em uma escola nova junto com uma amiga do colégio anterior e depois da aula um garoto se aproximou da gente e convidou minha amiga, que vou chamar de L, pra ficar com o grupo de amigos dele. não fui incluída, na verdade acho que fui nem vista. ele era alto, conhecia todo mundo porque passou a vida estudando naquele lugar e todos seus amigos pareciam enormes, eu era baixinha, cheia de espinha na cara e dentuça, L era linda, sempre maquiada, bem vestida, já tinha corpo de academia, combinava perfeitamente no grupo do garoto e não demorou uma semana pra se adaptar no colégio novo enquanto eu demorei meses pra conseguir formar conversas inteiras com alguém. mas eu não conseguia condenar L, fazia sentido as novas amizades dela, mas isso era pra mim mais uma prova da minha inferioridade (parece dramático eu sei mas minha mente é assim)
o problema maior começa quando começo a fazer amizades e receber convites pra sair mas o sentimento de não ser querida continua, certa vez uma amiga da infância me chamou pra ir na praia com ela e alguns amigos, eu não queria ir já que não conhecia ninguém mas me esforcei e fui. foi divertido, eu ri, tirei fotos, conheci gente nova e quando voltei pra casa tinha mensagem me chamando pra ir no fim de semana seguinte. não fui. fiquei a semana toda revivendo o rolê na praia, revisitando todos os momentos que passei em silêncio por não conhecer os assuntos e comparando minha aparência com todo mundo que estava lá :)
agora imagine isso repetido mil vezes, todo evento ser um experimento de autoavaliação torturante, toda interação servir pra fazer eu me sentir pior comigo mesma, é natural que eu tenha chegado a conclusão que ficar trancada no quarto seria a solução mais simples e também é natural que depois de tantos nãos os convites, que já eram poucos desaparecessem.
esse texto ficou maior do que eu planejava, foi um grande desabafo porque ando me sentindo culpada em relação a todas as escolhas que fiz na vida, recomeçar é muito difícil e ainda tenho dificuldade de identificar quando estou sendo deixada de lado ou quando é paranoia, é perigoso ficar sozinha então vou tentando achar refúgio nos livros, filmes e escrita
esse texto é a cópia dos meus pensamentos desde a infância, sempre pensamos que somos os únicos que passam por isso, mesmo que não seja
Eu te entendo tanto… Essa autoconsciência sufocante, o medo de ser vista de um jeito errado, a necessidade de revisar cada momento como se a gente fosse um filme em câmera lenta. Já me senti assim muitas vezes. Sei como é cansativo e como isso acaba isolando a gente, mesmo quando tudo o que queremos, no fundo, é pertencer. Mas não se culpe tanto—você está tentando, e isso já é muito. Recomeçar é difícil, mas não impossível. Você não está sozinha. 💛